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Inspiração

A paranoia da beleza inatingível

Na era dos retoques por computador, o padrão de beleza difundido é irreal, o que gera infelicidade para quem está distante dele e deformações em quem o persegue

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.Há casos em famílias ricas e abastadas em que mãe e filha sofrem da síndrome de dismorfofobia, um mal cada vez mais comum, em que a pessoa tem uma visão distorcida de sua imagem. A doença é estimulada pela comparação que as pessoas fazem de si mesmas com imagens exibidas em outdoors e revistas,  e  fato de muitas fotografias serem mentirosas agrava ainda mais a situação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quando tentam apagar as marcas da passagem dos anos a qualquer custo, as consequências podem ser desastrosas. Hoje, com o arsenal disponível, o limite do estica-e-puxa é o bom senso. Além de, ao invés de conquistar o rosto e o corpo de seus sonhos, ficam deformadas.

 

No Exterior, o poder público está acordando para as consequências desta busca desenfreada pela perfeição e começa a tomar providências. Em janeiro, o Parlamento espanhol aprovou uma lei que proíbe a exibição de anúncios na tevê que “exaltam o culto ao corpo” das 6h às 22h. Os alvos são produtos de emagrecimento, beleza e cirurgias. Segundo os parlamentares, eles associam o sucesso a padrões físicos determinados e influenciam negativamente crianças e adolescentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EXAGERO


A estilista Donatella Versace ficou deformada após tantas intervenções

LIKE A VIRGIN
Madonna perdeu rugas e quadril e ganhou busto e cintura em foto da revista “Vanity Fair” de 2009

 

O padrão de beleza atual, idealizado pela sociedade e disseminado em campanhas publicitárias e revistas voltadas para o público feminino, nunca esteve tão distante da mulher comum e também nunca foi tão falso. Uma série de escândalos vêm envolvendo fotografias de editorias de moda e campanhas publicitárias alteradas através do Photoshop.

Mulheres de maduras com rosto de moçinhas e senhoras com a pele livre de rugas e esbanjando a firmeza do colágeno. Celebridades com corpos de proporções tão perfeitas que desafiam a natureza.

Essas imagens provocam uma ilusão que nesses casos valem menos do que qualquer palavra. Têm duas  consequências sérias,  geram infelicidade em mulheres que se sentem cada vez mais distantes do padrão propagado por essas beldades ou, pior, suscitam uma perseguição desenfreada por este ideal de beleza. “Elas partem para uma busca incansável por intervenções estéticas desnecessárias, que não trazem satisfação duradoura”, diz o psiquiatra Táki Cordas, coordenador do Ambulatório de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, que estuda a obsessão pela beleza há 20 anos. As mulheres nunca gastaram tanto com a aparência. Ainda assim, elas não estão felizes com o que veem quando se olham no espelho.

ETERNA
A atriz Sophia Loren sem rugas e com mãos lisinhas no calendário Pirelli 2007, aos 73 anos, e dois anos antes com as marcas do tempo

Somos bombardeados por anúncios de  cosméticos milagrosos e soluções mágicas para qualquer questão de cunho estético que a mulher possa ter. É necessário que cada um encontre o seu equilíbrio. Nada mais saudável do que se cuidar e buscar o bem-estar. O que não pode é sair atrás de cirurgiões plásticos pedindo a boca da Angelina Jolie, o nariz da Gisele Bündchen e os olhos da Sophia Loren. Isso acontece muito e é patológico.” Para atingir esse equilíbrio, o psiquiatra Táki Cordas recomenda deixar as preocupações com a aparência um pouco de lado e resgatar outras questões, como as emocionais, filosóficas e intelectuais.

“Se a mulher canaliza suas energias para um único tema, deixa de lado todos os outros, que poderiam lhe dar mais estrutura para passar ilesa por todo esse frisson de padrão de beleza”, avalia o psiquiatra.

Na França, sob recomendação do Ministério Público, os legisladores estão debruçados sobre um projeto de lei inovador, que, se aprovado, deve inspirar outros países. Da mesma forma que cigarros e bebidas alcoólicas trazem avisos do Ministério da Saúde que alertam para os malefícios do tabaco e do álcool, as campanhas publicitárias e os editoriais de moda devem informar o público quando as imagens tiverem sido manipuladas digitalmente. Se o esclarecimento não for veiculado, pagam multa.

É muita paranóia.

PEDAÇO DE MULHER
À esq., a atriz Demi Moore foi afinada – e perdeu parte do quadril – na “W”.
Kate Winslet na “GQ” inglesa: curvas só no espelho ao fundo

Venezuela: a fábrica de misses, a saga para ser coroada começa cedo

Cursos mobilizam famílias que apostam nos preparatórios para misses: um trampolim para o coroado

 

Lucía tem quatro anos. Aos sábados, quando não está no jardim de infância, aprende a se maquiar, comportar-se em público e posar para fotos. Está inscrita em uma academia de modelagem em Caracas, onde a maioria das frequentadoras sonha ser Miss Venezuela.

Lucía conta que várias amigas também querem ser modelo. Esse é o primeiro passo para, quem sabe um dia, ter a oportunidade de estar na Quinta Miss Venezuela, a mansão onde as aspirantes à coroação mais famosa do país são preparadas. Para muitas delas, o sonho de um dia se tornar “Rainha da Beleza” foi alimentado desde a infância.

 

Divulgação/Miss Venezuela

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muitas mães inscrevem as filhas na agência quando identificam timidez e insegurança, e diz que as dicas para as pequenas a saber como comer, abrir uma porta, coisas simples que na atualidade não prestamos atenção, mas que são importantes e ficam para o resto da vida.

Adolescentes recebem orientações sobre postura,  apoio das mãos e o uso de diferentes vestimentas na passarela.

 

 Divulgação/Miss Universo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

De fato, no reality show "Tudo pela Coroa”, lançado no ano passado para expor a preparação e seleção das aspirantes ao Miss Venezuela, o guru da beleza disse a algumas das jovens que deveriam passar por operações. Assim como os recorrentes pedidos para que as modelos emagreçam, a orientação foi acatada.

 

Os critérios de beleza acarretam sofrimentos, e muitas vezes consequências físicas e financeiras para meninas que um dia sonham em estar no concurso, antes mesmo de chegar à Quinta. Desmaios durante dietas, uma espécie de plástico costurado na língua para não comer alimentos sólidos e pagamento de cirurgias plásticas são algumas delas.

Para Libertad, o paradigma de beleza imposto pelos concursos estão repletos de misoginia, desprezo pelo corpo feminino e anulação da mulher como ser pensante. “É preciso diferenciar o direito que as mulheres temos de nos sentir bem com nosso corpo, de nos irradiar, coisa que temos que reivindicar, da superficialidade e banalidade deste estereótipo de beleza. Há um bombardeio da indústria do entretenimento para que não gostemos dos nossos corpos”, diz.

 

Contra essa imposição estética, coletivos feministas e ciclistas protestaram no ano passado contra os “antivalores” que acusam o concurso de promover.

É um negócio no qual a Venezuela aprendeu que era uma fonte importante para gerar recursos, no que é estética, odontologia, cirurgiões plásticos. Há todo um mundo ao redor dos reinados de beleza, mesmo sem chegar ao Miss Venezuela, já que no casting são quatro, cinco mil meninas”, explica Harley Torres, instrutora de oficinas de modelagem.

 

Torres explica que no caminho do sonho para ser misses, as concorrentes costumam gastar mais do que ganham para tanta preparação. Apesar de afirmar que não gosta de criar disfarces, mas sim fazer com que as meninas sejam o que são em uma versão melhorada, reconhece que os padrões do concurso dão audiência. “As pessoas continuam assistindo porque é uma questão de querer chegar a ser como. Se não tem audiência, não tem anunciantes. Mas quem faz essa audiência é o povo”, diz.

 

Menor expectativa

Para Libertad, o processo de reivindicação da identidade venezuelana dos últimos anos incidiu nos padrões estéticos. “Começamos a entender que o bonito não é o estereótipo, mas sim com o que eu me identifico. A grande maioria não se vê identificada e começa a se perguntar: 'por que essa é a beleza, se eu não pareço com ela, ninguém que eu conheço parece com ela?'. Há um olhar mais crítico”, afirma.

 

O Miss Venezuela, no entanto, ainda é considerado o evento de maior audiência do país e motivo de disputa entre anunciantes. Atualmente, adiciona-se o forte eco nas redes sociais, que soma centenas de milhões de menções.

Em um país em que até buques petrolíferos levavam nomes de misses, as atenções atraídas pelo evento ainda são muitas. E a coroa inspira as jovens que consideram os concursos como um trampolim para o reconhecimento, em diversas áreas.

 

Vide o caso da Miss Universo Irene Sáez, que foi prefeita e governadora, e chegou a concorrer nas eleições presidenciais de 1998 contra Chávez, em um exemplo da notoriedade que uma Rainha da Beleza pode chegar a adquirir. Não à toa, o sonho de um dia estar entre as candidatas à coroa continua movimentando essa rentável indústria, que tantas misses já deu ao mundo.

 

Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/35514/venezuela+no+pais+que+se+especializou+em+fabricar+misses+sonho+de+ser+coroada+comeca+cedo.shtml

 

 

 

Beleza imposta

 

Apesar do desejo e dedicação das jovens em centenas de agências como esta pelo país, as candidatas sabem que passarão pelo olhar crítico de Osmel Sousa, presidente da organização que realiza o evento e conhecido no país como o “Czar da Beleza”. Adepto da cirurgia plástica, o empresário não poupa retoques para transformar mulheres segundo seu critério de beleza.

 

Para a socióloga feminista e professora de Teoria de Gênero Indhira Libertad, Sousa tem marcado durante décadas a estética e o padrão de beleza das venezuelanas. Lamenta, os danos, afirmando que os traços impostos nunca tentaram resgatar características venezuelanas. Afirma que escolher rainhas da beleza é uma tradição antiga na Venezuela, mas que os concursos ganharam um matiz “comercial e classista”.

 

Em país aficionado por concurso de beleza, sonho de ser consagrada Miss Venezuela é alimentado desde criança.Não é para menos, no país que mais deu misses ao mundo e é conhecido como uma fábrica de beldades. Com sete coroações de venezuelanas como Miss Universo, seis como Miss Mundo e seis como Miss Internacional, o concurso para escolher a mulher mais bela passou a ser um evento social que reunia famílias, motivava apostas e debates e ganhava destaques na imprensa.

 

Embora muitos venezuelanos afirmem que o frenesi com os concursos tenha diminuído nos últimos anos, não se pode negar que a tradição de escolher Rainhas da Beleza faça parte da cultura da Venezuela. Os cursos destinados a crianças, adolescentes e jove ns da agência também incluem módulos de etiqueta e protocolo, e dicção e oratória.

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